Quinta-feira. Noite fria. Borges
de Medeiros. Quase nove horas. Ao avistar a subida da Borges na perspectiva do
Mercado Público, vi um exército inteiro de policiais militares, uns tantos em
frente à Prefeitura, outros de motos, eram tantos que ao ir subindo, quase
solitária, o corpo esquentava com tantos olhares. Poucos arriscavam descer ou
subir a grande avenida. Passar por uma esquina, ironicamente, chamada de
democrática cercada de policiais foi uma das experiências mais surreais desta
vida. Chegando próximo das vias que desembocaria na Praça da Matriz, vi
inúmeros jovens. Em uma rua estavam se juntando. Ouço dois deles, negros,
moletom, mochila nas costas, olhar desolado para a avenida “Como a gente vai
embora??” Sim. Aqui a polícia tem endereço certo. E estes dois jovens eram os “melhores”
endereços para aquela tropa. Segui. Tentei a segunda rua e vejo uma jovem sendo
carregada e a tropa de choque iniciar as bombas. E helicópteros. Luzes. Bombas.
Consigo acessar a Praça somente na terceira tentativa pela escadaria da Borges.
No topo, uma gurizada, 14, 15, 16 anos era uma média bem possível. Todos muito parecidos no seu jeito de andar,
vestir, mesmo querendo ser muito diferentes. Meninos e meninas bem parecidos e quanto
mais bomba policial se ouvia, mais junto eles ficavam. Tinha muita gente
fugindo. Mas eles não. Eles iam se aproximando. Refujo-me na casa de um amigo e
em meia hora decidimos encarar a rua e seguir para casa. Ao sair, a cena que
mais marcou. Eles eram dezenas. Correndo. Subindo em carros, batendo aos
pontapés as portas. E nós, três amigos e eu, caminhando. Os invisíveis naquele
momento éramos nós. Não tinha um líder. Era uma galera encapuzada de lenço no
rosto, definido a correr e correr junto, batendo no que fosse imóvel ou que
atrapalhasse. Nós, continuávamos invisíveis. Conseguimos um táxi para chegar em
casa. O medo maior. Que toda aquela tropa resolvesse usar suas armas letais
naquelas meninas e meninos, tão conhecidos por eles. Finalmente estes meninas e
meninos chegaram ao centro da cidade. O centro da cidade os aguardava com aquilo
que eles mais conheciam, policiais bem armados. A meia noite a cidade já
dormia. Mas fico pensando, eles sabiam o quão juntos eles estavam? Será que lá
onde eles moram, eles andam assim tão próximos? Até quanto aguentamos ser
invisíveis?
domingo, 7 de julho de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)