domingo, 7 de julho de 2013

Um pequeno relato sobre uma quinta-feira em Porto Alegre,

Quinta-feira. Noite fria. Borges de Medeiros. Quase nove horas. Ao avistar a subida da Borges na perspectiva do Mercado Público, vi um exército inteiro de policiais militares, uns tantos em frente à Prefeitura, outros de motos, eram tantos que ao ir subindo, quase solitária, o corpo esquentava com tantos olhares. Poucos arriscavam descer ou subir a grande avenida. Passar por uma esquina, ironicamente, chamada de democrática cercada de policiais foi uma das experiências mais surreais desta vida. Chegando próximo das vias que desembocaria na Praça da Matriz, vi inúmeros jovens. Em uma rua estavam se juntando. Ouço dois deles, negros, moletom, mochila nas costas, olhar desolado para a avenida “Como a gente vai embora??” Sim. Aqui a polícia tem endereço certo. E estes dois jovens eram os “melhores” endereços para aquela tropa. Segui. Tentei a segunda rua e vejo uma jovem sendo carregada e a tropa de choque iniciar as bombas. E helicópteros. Luzes. Bombas. Consigo acessar a Praça somente na terceira tentativa pela escadaria da Borges. No topo, uma gurizada, 14, 15, 16 anos era uma média bem possível.  Todos muito parecidos no seu jeito de andar, vestir, mesmo querendo ser muito diferentes. Meninos e meninas bem parecidos e quanto mais bomba policial se ouvia, mais junto eles ficavam. Tinha muita gente fugindo. Mas eles não. Eles iam se aproximando. Refujo-me na casa de um amigo e em meia hora decidimos encarar a rua e seguir para casa. Ao sair, a cena que mais marcou. Eles eram dezenas. Correndo. Subindo em carros, batendo aos pontapés as portas. E nós, três amigos e eu, caminhando. Os invisíveis naquele momento éramos nós. Não tinha um líder. Era uma galera encapuzada de lenço no rosto, definido a correr e correr junto, batendo no que fosse imóvel ou que atrapalhasse. Nós, continuávamos invisíveis. Conseguimos um táxi para chegar em casa. O medo maior. Que toda aquela tropa resolvesse usar suas armas letais naquelas meninas e meninos, tão conhecidos por eles. Finalmente estes meninas e meninos chegaram ao centro da cidade. O centro da cidade os aguardava com aquilo que eles mais conheciam, policiais bem armados. A meia noite a cidade já dormia. Mas fico pensando, eles sabiam o quão juntos eles estavam? Será que lá onde eles moram, eles andam assim tão próximos? Até quanto aguentamos ser invisíveis? 

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