segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Significados de uma vivência...

"Somos o que fazemos, principalmente o que fazemos para mudar o que somos."
Eduardo Galeano

Passado alguns dias resolvi escrever sobre a experiência do VER SUS GHC. Não pra contar o que a gente já sabe, mas as coisas que nestes dias após a experiência me fizeram refletir.

Quinze dias juntos com gente que a gente não conhece, de lugares que muitas vezes passam despercebidos pelas nossas caminhadas é aventureiro, é a idéia (ainda com acento!) de que se atirar no escuro deve valer a pena, pois 20 pessoas, são 20 histórias de vida, 20 desejos, 20 sonhos, enfim, são 20 possibilidades novas de se construir e conhecer.

Então vamos embora... Conhecer e deixar-se conhecer e ver no que dá...

Chegar a uma Instituição que toma conta da saúde de Porto Alegre e muitos arredores com uma proposta corajosa, afinal, ser 100% SUS, é enfrentar a lógica que invade “as cabeças” e os imaginários de todo mundo: o que é isso? Isso existe? Pode? Perguntas que várias pessoas me fizeram e que eu também fazia e que pude sair após os 15 dias e responder de coração aberto. Pode sim. Existe sim. Porém é complexo e exige “pensações”. Talvez este seja o nosso papel. Pensar.

Pensar que na nossa formação há muito que se fazer, há muito que se discutir e construir possibilidades para este desejo e sonho de acreditar que a Saúde Pública é para todos e é feita por todos diariamente que trabalham, pensam, estudam, passam, usam.

Neste sentido, poder conhecer e conviver com estas pessoas que estão fazendo uma parte do que é o SUS foi uma experiência muito significativa. Significativa no sentido de perceber as angústias, as dificuldades, a necessidade de formação continuada, as conquistas e poder perceber, também, que muitas vezes estar aberto para ouvir seja um cuidado necessário.

Muitas falas e gestos nos atravessaram nesta caminhada.

Chegar ao refeitório e só acenar para o pessoal responsável e ser recebido com sorrisos e ser liberado para curtir o alimento diário, chegar na Unidade e as pessoas dispostas a nos mostrar seus trabalhos e fazeres, dançar e brincar num grupo de idosos, perceber que o silêncio num grupo de cuidadores tem muito a dizer, que numa consulta médica é possível só ouvir, olhar no olho e sorrir, que há espaços para meditações, que sentar no muro do Conceição pode ser um bom momento de escutar boas histórias, que nem todo mundo quer estar com a gente, mas que já que lá estamos, o melhor pode ser feito, que durante uma caminhada pode se olhar para cima, para os lados e não só para frente, enfim, “coisinhas” que fizeram destes dias algo que ficará para sempre.

Gostaria de ter tido mais tempo com algumas pessoas, com seus pensamentos e palavras, mas, talvez, tenhamos feito isso de um jeito um pouco diferente, do nosso jeito, de um jeito não formal, com gosto de café, chimarrão, nas esperas, nos olhares, nos ônibus, nas “festinhas”, uns com mais, outros com menos, mas percebendo que conviver é um exercício, de doação, de paciência, de tolerância, de vontades.

Sobre minha casa, que merece um capítulo carinhoso, pois aqui, muitos laços e sonhos foram trocados, inhonhas e sagus a parte, fiquei muito feliz de poder ceder um espaço pequeno, apertado, mas que foi possível, darmos risadas e nos ajudarmos um pouco (nem que fosse para acordar de manhã cedo!). E fica aqui o desejo que sempre seja possível disponibilizado um lugar onde todos, possam ficar juntos. Um lugar para nos conhecermos, nos respeitarmos e assim nos ouvirmos mais.

Enfim, cuidar é sempre complexo, cuidar da gente, cuidar dos outros, do mundo, é um compromisso. Compromisso com o olhar, com o lixo, com a educação, com a rua, com sinal fechado, tudo faz parte de uma grande rede que precisa ser fortificada e pensada para que possamos descobrir que não há ninguém melhor ou pior, mas que todos estamos no mesmo mundo e que ele é nosso objetivo. Um mundo melhor, justo, acessível, alegre, diferente e de possibilidades.

Valeu pessoas do “VERSUS” GHC, que possamos continuar trabalhando pela nossa formação, pelo nosso mundo, pela vida.

2 comentários:

Oie...pode falar...