quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A vida em pequenas palavras...



Mandei este email estes dias ao coletivo de Saúde Mental e compartilho aqui...






Um pouquinho da minha história:

(P.S. escrevi um textinho sobre a vivência do Ver SUS GHC e me lembrei que não escrevi nada sobre a vivência São Lou/Pel...)

Vou lá então:

Chegar num grupo de pessoas, meio atravessada, é sempre complicado, pois logicamente, meu lugar não era ali e sim na próxima turma, mas o universo conspirou e quando ele conspira eu assumo as responsabilidades e fui.

Me atirei de cabeça...ofertei minha casa à duas ilustres desconhecidas e de todo material mandado li pouco...muito pouco.

Porém existe algo no coração da gente que diz que as coisas sempre valem a pena, sejam elas do jeito que forem. Esperar a Gabi na parada do ônibus, sem saber absolutamente nada sobre suas características, mas alguém de mala descendo do T5 não é dificil de achar(hehehe) ou melhor ir ao aeroporto buscar uma mineira sem ter perguntado a hora do vôo (ainda com acento sim!!!) ou a empresa aérea, são apenas exemplos de como as coisas podem ser levadas menos a sério!!!!

Nestes pequenos dias de convivência com a paulista e a mineira, já me deram a certeza de que não ia fazer qualquer coisa ou estar em qualquer lugar. A diferença tá no olhar, no sorriso, nas vontades das pessoas que querem estar juntas.

Enfim foi o começo de um alento no meu coração...não estou tão sozinha, quanto eu acreditava estar.

Abrir o coração para 20 desconhecidos e aprender a conviver numa comunidade sem muitas regras é um desafio, e regras no sentido chato da palavra, afinal, as acomodações e desacomodações também organizam (de um jeitinho menos capitalista!!)

Poder limpar o lugar que se vai dormir junto e perceber que queríamos mesmo estar juntos, foi um começo interessante! Daí decidiu-se comer junto, brincar junto, VIVER JUNTO!

E a música, bom, esta foi o caminho escolhido para nos acalentar, seja para dormir, para comer, para acordar e principalmente para dizer às cidades que estávamos lá. E tenho outra certeza: que este cantar que estávamos lá foi o que resignificou meu andar: Não gosto e não aceito (e não quero mais!) passar ou deixar passar-se coisas de um jeito silencioso. Tudo pode se mexer, a qualquer momento em qualquer hora e de qualquer jeito. (E pensar que eu já não estava tão confiante disto, o capital já tinha assumido uma parte do meu coraçãozinho e me consumia...)

Seja sentada na praça, na pedra, no meio da lagoa, molhada, seca, chorando, rindo, cantando para a menina de olhos alegres sentada na sua cadeirinha num dia de sol na lagoa, ouvindo queixas e sabedorias, chimarreando com "estrangeiros", ganhando dinheiro(pq não?), conhecendo um Jesus muito mais gente do que já tinha me sido apresentado, descobrindo que de um sabugo sai uma estrela, gritando (e muito, né Camila?!!!!!), correndo, dançando (reacendendo festas...hehehe), brigando, pensando (aff...e como!!!!), pintando...nossa...parace que foi ontem...tá tudo no coração muito vivo ainda...

Saí destes dias com muitas certezas ( e olha que prefiro as dúvidas!), mas certezas boas, certezas de que sim...sou uma louca convicta pela vida, pelas pessoas e que não...eu não tô sozinha...que tem mais gente por este mundão tão louco e apaixonado como eu e estas certezas me fizeram andar (de novo)...em não desistir das minhas dúvidas, das minhas lutas...

Galeano diz que "somos principalmente o que fazemos para mudar o que somos", tô nesse barco e não abandono nunca mais...não quero morrer abraçada em certezas duras, quero as molezas dos dias, de poder sentar na beira da lagoa e admirar a vida, quero as cantorias nas calçadas, as caminhadas, os sonhos compartilhados, as diferenças expressadas (quero até os desenhos do Zil pelo mundo!), os abraços apertados, os tchutchus espalhados, quero os bilhetinhos sinceros, os desabafos...

Ai gente, não sei porque me deu vontade de dizer estas coisas e nem sei se elas são pertinentes agora, mas como não vou poder estar fisicamente aqui em Porto, quero que saibam que lá em São Borja vou fazer o possível para levar isto que foi carimbado no meu coração naqueles 15 dias e que se as vezes fico um pouco quietinha, é por admirar os movimentos, por ser feliz em fazer parte disto e querer olhar de longe e ir me aproximando devagarinho.

Inclusive, vou contar um segredinho: vcs tem um pouquinho de culpa por eu estar indo embora, pois se não tivessem me despertado, ainda estaria sentada numa cadeira imaginando onde eu poderia estar...agora eu vou...largando tudo aqui e reconstruindo lá...

Tenho o maior orgulho de dizer que faço parte (nem que seja um pouquinho) disto aqui.

Espalho, conto, canto...

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